Todas as decisões sobre a pintura são tomadas agora, entro num campo vasto de possibilidades, onde frequentemente no momento da ação tudo se modifica e minha percepção sobre a pintura se acumula em uma pincelada que não sintetiza o ideal, então o momento se transforma numa sequência de sobreposições, mesmo que da mesma cor, tornando uma pincelada em uma sequência de gestos da mesma tinta preparada, talvez um equívoco que eu venha repetindo ligado à ilusão de fazer uma pintura de pura intuição. Mas posso pensar que tudo se resume ao objeto construído de fato, que resume minhas intenções, o que abre possibilidades de, enquanto realizo uma pincelada, eu filosofe um pouco sobre o universo. talvez também por isso me deixe distrair e transformar uma pincelada, sem perceber, novamente em uma sequência de movimentos aleatórios mas que agora estão registrados e anotados como relato da minha tentativa de síntese.
Como tratei de desenvolver uma poética especificamente em pintura, que resulte da percepção dos materiais (cores) e gestos, adotei uma análise do processo de trabalho descrito pelo pintor Van Gogh, principalmente pelo fato das descrições sobre os ambientes em que viveu, seus estudos, intenções com as cores e a observação intensa de trabalhos de outros pintores, que possa ser extraído desta realização de Van Gogh não uma temática, como representação, mas uma transformação de percepções externas tornando as imagens produzidas consequência, tendo uma importância secundária como produto e sendo próprios objetos de estudo, indicando caminhos, formando o trabalho. A partir da narrativa do processo de construção de obras, Van Gogh e suas observações sobre os ambientes e as cores ( complementares teorias de contrastes) e a transferência de suas sensações para a tela foi um ponto de partida para um despertar poético. Pintar ideias e intenções não vinculadas a uma técnica ou formato, mas sim na atitude frente ao registro de percepções, frente a tela e a própria pintura, referenciais artísticos, obras que demonstram processos de criação, que contenham características poéticas, ideias que conceitualmente, indiquem caminhos, tragam questões filosóficas, para minha produção pictórica.
Trabalho posterior ao experimento JE SUIS NATURE I, onde exploro com mais cautela a gestualidade com cores, mas que ainda reflete situações anteriores de alguns excessos. As pinturas apresentadas estão compostas por gesto e cor; da mesma forma que os estudos anteriores mas agora com uma nova abordagem. Partindo muitas vezes de uma necessidade obsessiva de preencher a tela, gerando uma ansiedade que resulta em fragmentação, ocupando o espaço com informações em saturação, sigo agora para uma abordagem mais sintética, para uma incorporação do gesto como a necessidade de sobrepor camadas de tinta de uma forma mais reflexiva e controlada, resultando em uma estrutura de composição de cores para superfície de fundo que ainda reflete uma grade de sobreposições.